Debate na Rádio Soberana promessas vazias
Debate eleição 2024
OPINIÃO | O debate entre Lucas Sanches e Elói Pietá, promovido pela ACE Guarulhos na última sexta-feira(11/10) foi marcado mais por evasivas do que por soluções concretas para os grandes desafios da cidade. Embora houvesse acirramento nas falas, os dois candidatos evitaram enfrentar questões essenciais que impactam diretamente a vida dos guarulhenses. Temas como a construção do metrô, o pagamento de R$ 630 milhões aprovado em tribunal arbitral a favor das empresas de ônibus, e a necessidade urgente de enxugar a máquina pública, abarrotada de comissionados ligados aos vereadores da base de apoio do prefeito Guti, não foram sequer mencionados.
Lucas Sanches, em uma manobra previsível, preferiu se concentrar em ataques ao PT, mencionando o partido mais de 20 vezes em suas falas para tentar desqualificar Pietá que não é do PT. No entanto, sua estratégia de desviar o foco de críticas à gestão Guti, que ele próprio atacou enquanto vereador, mostra uma profunda contradição. Sanches, que se vende como o "fora do sistema", repete práticas políticas desgastadas. Ainda mais incoerente é o fato de que agora ele conta com o apoio dos mesmos vereadores que passaram 8 anos sustentando decisões impopulares da administração Guti, como o fechamento da Proguaru e a controversa criação da Taxa do Lixo. Sua campanha, que tanto se assemelha à de Guti em 2016, apresenta uma grande diferença: ele já inicia com os mesmos aliados que ajudaram a construir a atual gestão, marcada por escândalos e decisões polêmicas. A escolha de Thiago Surfista, ex-secretário de Guti e ex-PCdoB(Partido Comunista do Brasil), como seu vice, é a cereja no topo dessa estratégia contraditória.
Do outro lado, Elói Pietá, com sua vasta experiência, também enfrenta os fantasmas do passado. Embora seu currículo inclua dois mandatos bem sucedidos como prefeito, o peso de suas alianças enfraquece seu discurso de liderança experiente. O ex-prefeito Sebastião Almeida, que saiu do cargo com um índice elevado de rejeição, continua ao seu lado, reforçando a conexão com uma gestão que muitos eleitores preferem esquecer. Sua vice, Fran Corrêa, também carrega um fardo: acusações de uma dívida milionária de IPTU, mesmo após decisões judiciais favoráveis que desmentem essas alegações. Embora a justiça tenha agido em defesa de Fran, o estrago em sua imagem já foi feito.
Vale destacar que Fran Corrêa, apesar desse histórico, é uma figura de grande peso no cenário político local. Empresária influente, Fran foi considerada como a vice perfeita por outros candidatos, como Alencar Santana e até mesmo pelo próprio Lucas Sanches, em grande parte por seu capital político e financeiro substancial. Sua presença na chapa de Pietá fortalece a campanha, mas também traz consigo as sombras de seu passado.
Nenhum dos dois candidatos teve a coragem de abordar a situação crítica da saúde pública em Guarulhos, marcada pela terceirização de hospitais, que foi uma das decisões mais contestadas da gestão Guti. Com hospitais sobrecarregados e uma crônica falta de médicos, esse é um tema que afeta diretamente a população, mas foi completamente ignorado. Em relação à educação, ambos prometeram a ampliação de vagas em creches por meio de convênios com instituições privadas, mas evitaram falar sobre os escândalos de corrupção associados a esse modelo de parceria, que frequentemente envolve vereadores e comissionados, inúmeras vezes denunciadas aqui no G7News.
Outro ponto delicado para Lucas Sanches é a denúncia protocolada na Câmara Municipal, que o acusa de ser o suposto mandante de uma tentativa de assassinato contra seu ex-chefe de gabinete, Caíque Marcatti, e o jornalista Valdir Pimenta. Além dessa grave acusação, há ainda um acordo de "divisão de mandato" registrado em cartório entre Sanches e Marcatti, com o objetivo de garantir o retorno do investimento feito em sua campanha de 2020. Essa denúncia, que em algum momento terá que ser apreciada pela Câmara, lança uma sombra sobre sua candidatura. Se confirmada, pode não só comprometer a sua trajetória política, como também resultar em uma possível cassação de mandato, abrindo caminho para que Thiago Surfista, seu vice, assuma a prefeitura. Esse cenário consolidaria a continuidade da gestão Guti e perpetuaria a influência de comissionados ligados a vereadores reeleitos e derrotados. O caso também é apurado pelo Ministério Público.
O eleitor de Guarulhos se vê diante de uma escolha difícil. Lucas Sanches se apresenta como um jovem outsider, mas já carrega o peso de alianças que enfraquecem seu discurso de renovação. Sua inexperiência na administração pública fica evidente, e a semelhança de sua campanha com a de Guti em 2016 é inegável, com uma diferença crucial: Sanches já inicia sua trajetória com o apoio dos mesmos vereadores que ajudaram a construir os oito anos de uma gestão que ele tanto criticou. Seu eventual mandato, caso se concretize, estará comprometido pela necessidade de manter esses aliados satisfeitos, limitando sua capacidade de governar de forma independente.
Por outro lado, Elói Pietá, com toda a bagagem de quem já foi prefeito, precisa lidar com o peso de suas próprias alianças e um passado que ainda provoca rejeição em muitos eleitores. Sua chapa carrega os desgastes de administrações anteriores e acusações que, embora desmentidas judicialmente, continuam a minar a confiança do eleitorado.
Em um cenário eleitoral tão polarizado e complexo, o futuro de Guarulhos parece estar nas mãos de dois candidatos que, embora apresentem discursos diferentes, compartilham o peso de alianças e práticas que, ao fim e ao cabo, enfraquecem suas propostas de mudança. Seja a "cara da mudança" prometida por Lucas Sanches, marcada por contradições internas, ou a experiência de Elói Pietá, acompanhada dos fantasmas do passado, o eleitor guarulhense se vê diante de um dilema: escolher entre a perpetuação de uma gestão marcada por escândalos ou o retorno de práticas que deixaram cicatrizes profundas na cidade.
Crédito G7News
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